Tudo estava normal quando Isabelly Alves, 5, chegou da
escola. Seu pai lavava a moto, a avó cuidava da casa e a tia da perua
escolar tinha estacionado no lugar de sempre.
Mas, quando abriram a porta para a menina descer, Isabelly estava
desmaiada. Aí foi aquela confusão: a avó gritou, o pai correu, a tia da
perua deixou o volante e até o pessoal do bar foi ver o que estava
acontecendo. E Isabelly seguia toda molenga, de olhos fechados, sem
mexer um músculo.
Foi só quando já estava dentro de casa que a menina abriu os olhos
com uma piscadela: "É brincadeira!" Ela, na verdade, estava imitando
uma cena da novela "Carrossel" (SBT), em que a personagem Carmem
desmaia na escola. "Era teatrinho", contou.
Com o sucesso de "Carrossel", fãs começaram a imitar os personagens e
até cenas inteiras na escola. E nem sempre isso acaba bem. É o caso de
Maria Eduarda Oliveira, 7.
Em uma aula de educação física, brigou de mentirinha com uma amiga.
Tudo porque as personagens Marcelina e Valéria tinham discutido em um
capítulo de "Carrossel". O problema é que o professor não sabia que
aquilo tudo era ensaiado. "Ele ficou preocupado e quase mandou a gente
para a diretoria", lembra a menina.
"As crianças sempre imitaram a ficção. Incorporar a briga da TV é
entender os conflitos da vida", diz Silvia Colello, professora de
psicologia da educação na USP. Para ela, a solução para o problema não é
proibir as crianças de assistir à novela.
"Se uma criança assiste apenas a desenhos educativos, não vai saber
conversar com os amigos. O segredo é os pais ajudarem a criança a ser
crítica com a TV", completa.
No colégio Renovação, por exemplo, os alunos só podem imitar
"Carrossel" durante o recreio. "Eu sempre sou o Cirilo. É porque sou
negro, né? Mas não gosto, ele é baixo astral", conta João Victor
Dionisio, 9. Quando escuta isso, Júlia Morelli, 9, que imita a Maria
Joaquina, logo faz biquinho: "Ai, Cirilo!", e todos caem na gargalhada.
Fonte: Tribuna Hoje
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